Teologia Bíblica Arqueologia moderna

Ascensão da Arqueologia Moderna
Quais os avanços da arqueologia?
A história da moderna arqueologia do Oriente Próximo começa quase ao mesmo tempo em que começaram outras ciências modernas, durante o século dezoito. Antes disso, sempre houve colecionadores de antiguidades (geralmente museus ou indivíduos ricos). As “escavações” resultantes eram pouco mais do que caça a tesouros que destruía a maior parte da informação de valor para o arqueólogo científico. Infelizmente, algumas pessoas ainda conservam essas atitudes, e quase todos os países do Oriente Próximo travam uma difícil batalha contra os escavadores; que procuram satisfazer à demanda do mercado negro de artefatos.
A arqueologia bíblica provavelmente teve início com a descoberta da Pedra da Roseta (nome derivado de uma aldeia próxima do Delta do Nilo), quando Napoleão invadiu o Egito em agosto de 1799. Escrita em três colunas (grego, hieróglifos egípcios, e um escrito egípcio de data posterior), a pedra logo foi decifrada por Jean François Champollion. Havia mais relíquias do passado na superfície do terreno no Egito do que em qualquer outra parte do antigo Oriente Próximo, e a descoberta de Napoleão desses escritos estimulou posterior exploração desse país.
Um avance semelhante se fez na Mesopotâmia em 1811, quando Claude J. Rich encontrou dezenas de tábulas; de argila cozidas, na Babilônia, com escrita cuneiforme (“em forma de cunha”). Em 1835, Sir Henry Creswicke Rawlinson decifrou uma inscrição em três línguas (persa antigo, elamita e acadiano), que Dario o Grande havia feito sobre um penhasco perto de Behistun na região ocidental da Pérsia. Uma década mais tarde, Sir Austen Henry Layard e outros arqueólogos pioneiros abriram montes de entulho que continham os restos de grandes cidades assírias, como Nínive, Assur, e Calah. Nesses montes (ou outeiros), descobriram mais tábulas cuneiformes. Uma vez que já haviam aprendido a ler a escrita cuneiforme, 
 
as tábulas lhes permitiram rever toda a história, cultura e religião da Assíria e Babilônia antigas. Encontraram muitos paralelos com a história da Bíblia.
Contribuição de Petrie
A arqueologia científica, porém, levou quase outro meio século para entrar na Palestina. Em 1890, Sir W. M. Flinders Petrie voltou sua atenção para o monte de Tell-el-Hesi (hoje a cidade bíblica de Eglom, embora Petrie julgasse tratar de Laquis). Petrie não foi o primeiro a cavar na Palestina, mas foi o primeiro a reconhecer o verdadeiro significado da estratigrafia – estudo das várias camadas de ocupação que aparecem num corte geológico, e da cerâmica pertencente a cada stratum (latim, “camada”). Mas até mesmo o primeiro passo de Petrie foi vacilante. O método de Petrie, de datar pela sequência, ou datação sequencial, simplesmente considerava como divisões “estratigráficas” cada pé (30,5 cm) na escavação, em vez de seguir as linhas irregulares da própria ocupação ou sequência.
Não é possível mencionar todos os cientistas que se valeram das realizações de Petrie. Contudo, o próximo grande passo foi dado por W. F. Albright em Tell Beit Mirsim, oeste de Hebrom, numa série de “‘escavações” desde 1926 até 1932. 
(Albright identificou o sítio com a localidade bíblica de Debir ou Quiriate-Sefer, mas isto tem sido seriamente contestado). Por seus métodos meticulosos, Albright estabeleceu de uma vez por todas a sequência correta da cerâmica palestina. Albright e seus sucessores, especialmente G. E. Wright, recomendaram e praticaram os mais esmerados procedimentos. Outras melhorias na técnica de escavação foram introduzidas por G. A. Reisner e Clarence S. Fisher em Samaria (1931-1935), e por Kathleen Kenyon em Jericó e alhures , começando em 1952. Os especialistas ainda discutem sobre os melhores procedimentos. É preciso usar métodos diferentes pelo simples fato de variarem as exigências dos locais. Por exemplo, a arqueologia israelense dos dias atuais muitas vezes é obrigada a abrir mão de procedimentos mais desejáveis a fim de chegar antes dos buldôzeres  da nova construção.
Conforme observamos anteriormente, os arqueólogos modernos tendem a ter um conceito muito mais amplo de sua tarefa do que é assinalada pela expressão arqueologia bíblica. Desejam explorar todo o espectro da experiência humana em conexão com a história de um local. Esse método não está, necessariamente, em grande desacordo com o conceito da arqueologia biblicamente orientada. Mas, infelizmente, amiúde resulta em conflito.
Robinson e Glueck
Nosso esboço da história da arqueologia palestina seria incompleto sem a inclusão do nome de Edward Robinson. Suas contribuições circunscreveram-se mais à área da geografia ou exploração da superfície do que à escavação arqueológica, mas os dois esforços são inseparáveis. 
Em 1838 e 1852 ele e um companheiro tiveram êxito em localizar muitos sítios bíblicos, amiúde na base da similaridade entre seus nomes bíblicos e modernos (p. ex., Anatote, a terra natal de Jeremias, e a moderna Anata).
Quase um século depois, Nelson Glueck fez contribuições semelhantes mediante suas viagens às áreas estéreis da Transjordânia, do vale do Jordão e do Neguebe (região semi-árida ao redor de Berseba). Mais tarde ainda, o Fundo de Exploração da Palestina trouxe à fruição esses esforços pioneiros.
Desenvolvimentos Recentes
Os arqueólogos têm feito grandes progressos em duas áreas relacionadas com a arqueologia bíblica: arqueologia subaquática e estudos “pré-históricos”. Os métodos subaquáticos afetam a arqueologia bíblica apenas na cidade costeira de Cesaréia. Os estudos “pré-históricos”, que lidam com períodos anteriores a 3.000 a.C., dependem em grande parte de comparar os estilos de ferramentas de pedra. Os arqueólogos têm feito descobertas importantes do período “pré-histórico” em muitos pontos da Palestina, e estão concentrando mais de suas energias nessa direção.
Métodos Arqueológicos
Quais são os métodos arqueológicos?
Os métodos arqueológicos são, em essência, muito simples. Na verdade, podiam ser reduzidos a apenas dois procedimentos – estratigrafia e tipologia.
Estratigrafia
A estratigrafia estabelece uma cuidadosa distinção dos vários níveis (ou strata) em que as pessoas viviam. São numeradas de modo simples e consecutivo (em geral por numerais romanos) do alto para baixo, sendo o stratum do alto – o mais recente – “Stratum I” e assim por diante. O número total de camadas de determinado sítio pode variar de maneira considerável, bem como a profundidade dessas camadas. Um monte artificial de detritos ou entulhos de uma antiga cidade pode muito bem chegar de 15 a 22 metros acima do solo virgem, e na Mesopotâmia é frequente excederem esta altura. De quando em quando um monte artificial tem sido ocupado quase continuamente por milhares de anos; e se ainda estiver ocupado, a escavação será muito difícil ou impossível. Outras vezes haverá longas lacunas na história da ocupação do sítio. Isso nós só podemos saber depois de completada a escavação, embora um estudo dos fragmentos de cerâmica que foram arrastados pelas águas das encostas dos montes de detritos dêem ao arqueólogo um bom retrato do progresso das civilizações a serem desenterradas nesses montes. Às vezes as diversas camadas se distinguirão pelas camadas espessas de cinza ou de outros escombros da destruição; outras vezes somente pelas diferenças na cor ou na compacidade do solo. 
Se um monte de escombros jaz desabitado por longo tempo, a erosão e a pilhagem do local podem romper completamente uma camada. Habitantes posteriores muitas vezes cavam valas, cisternas  e covas profundas nas primitivas camadas, aumentando os problemas do escavador.
Tipologia da Cerâmica
A identificação dos estratos capacita o cientista a determinar uma sequência relativa de camadas, mas não datas absolutas. Para as datas, ele deve usar a tipologia da cerâmica (isto é, o estudo de diferentes tipos de cerâmica). Com o correr do tempo, os arqueólogos desenvolveram um conhecimento muito pormenorizado da cerâmica característica de cada período. Relacionando-se cada estrato com os fragmentos de cerâmica nele encontrados, o arqueólogo geralmente pode determinar a data do estrato dentro de um período de tempo relativamente estreito.
Quando foram introduzidos, os cientistas relutaram em adotar os métodos da estratigrafia e da tipologia. Em Tróia, Heinrich Schliemann concluiu no século dezenove que os montes de escombros encobriam as camadas de mais de uma cidade antiga. Isto lhe trouxe o escárnio dos círculos eruditos de toda a Europa até que ele provou sua tese. Houve, de início, semelhante rejeição da tipologia da cerâmica.
As tipologias de outros objetos antigos também são úteis. Por exemplo, o desenvolvimento da candeia ajuda o arqueólogo na identificação de períodos mais amplos. De um simples pires com um pavio ou mecha, a candeia finalmente desenvolveu um lábio em um lado para segurar o pavio, depois quatro lábios em ângulos retos entre si. Finalmente o topo foi todo coberto para deixar somente um bico para o pavio.
Na época bizantina e na cristã, o topo coberto era acabado com uma variedade de símbolos artísticos. 
Ferramentas, armas e estilos arquitetônicos mudaram através dos séculos, conforme mudava o desenho de ídolos pagãos. Nas raras ocasiões em que se encontrou material escrito na Palestina, temos outro teste importante para datas históricas, e a paleografia, que é o estudo da história da escrita, tornou-se uma ciência precisa. As moedas não apareceram na Palestina até ao fim do período do Antigo Testamento (c. 300 a.C.). Desde que as pessoas às vezes acumulavam moedas e as guardavam como tesouro, ou as conservavam como bens de família, esta evidência pode induzir o arqueólogo a erro. Verificase o mesmo com objetos importados, onde um intervalo de tempo de 25 a 50 anos muitas vezes terá de ser levado em consideração.
Outras Técnicas de Datação
A tipologia da cerâmica é a mais fundamental forma de datar os sítios arqueológicos. Todos os demais métodos são suplementares. Em anos recentes, os cientistas desenvolveram novos procedimentos para a datação de objetos antigos, mas nenhum desses procedimentos ameaça substituir a análise dos tipos de cerâmica. Os especialistas podem datar a cerâmica até dentro de, no mínimo, meio século; a margem de erro é consideravelmente maior com outros procedimentos, e em geral se torna maior quanto mais recuamos no tempo. Apenas numas poucas “eras escuras”, para as quais não temos nenhuma pista cerâmica, é que as técnicas mais recentes provaram valer o tempo e a despesa. Dos procedimentos mais recentes, o mais bem estabelecido e o importante é a datação pelo radiocarbono. O isótopo  14 do carbono é uma forma de carbono com meia-vida de cerca de 5.600 anos. Ele se decompõe para formar o carbono-12, a forma de carbono comum. Medindo-se a proporção do carbono-14 para o carbono-12 de um objeto, os cientistas podem determinar a idade do objeto. Embora o carbono-14 deva desintegrar-se a um índice constante, alguns cientistas ainda questionam sua exatidão e confiabilidade. 
Ele se encontra só em substâncias orgânicas (madeira, tecido, e assim por diante), que são raras nas escavações palestinas. Um pedaço considerável da amostra é destruído durante o teste, o que faz com que os arqueólogos relutem em usar este método. Não obstante, tem sido útil, especialmente em silenciar o ceticismo de pessoas que ainda não se convenceram da capacidade dos arqueólogos de datar a cerâmica.
Algumas outras técnicas são mais promissoras para a arqueologia bíblica. A termoluminescência serve para determinar quando a cerâmica foi queimada. A análise espectrográfica bombardeia um co dos minerais nele contidos. De um modo um tanto semelhante, 1 pedaço de cerâmica com elétrons a fim de medir o espectro quími-
na ativação do nêutron o material cerâmico é colocado num reator nuclear e a composição química da argila é determinada a partir da radioatividade que ela pode emitir. Os dois últimos métodos são mais proveitosos para determinar a fonte da argila da qual foi manufaturada a cerâmica do que sua data: mas, com frequência, os dois métodos andam juntos. (O olho de um competente especialista em cerâmica pode muitas vezes detectar muita coisa sobre a fonte original da argila sem esses auxílios científicos).
As técnicas científicas também podem ajudar na pesquisa de sítios. São tantos os montes formados por escombros ainda não tocados pela moderna escavação, que a demanda para esses recursos tem sido pequena. Mas nas áreas menos povoadas da Transjordânia e do Neguebe, a fotografia aérea infravermelha tem podido isolar cidades antigas selecionando diferenças na vegetação. Um objeto emite calor na forma de raios infravermelhos; quanto mais quente for o objeto, tanto mais raios infravermelhos serão emitidos. Assim, as fotografias infravermelhas revelam diferenças na temperatura das plantas que crescem nos muros e pavimentos antigos. Na Itália, os arqueólogos usaram o magnetômetro de próton (comparável ao contador Geiger) para localizar a cidade de Síbaris.
Supervisão do Trabalho
Além da estratigrafia e da tipologia, o registro cuidadoso e a publicação dos dados constituem o terceiro importante princípio da arqueologia científica. Diferentemente de outras ciências, a arqueologia não pode repetir seus “experimentos” para comprová-los. Assim, o interesse pelos registros cuidadosos é o âmago da “escavação” bem-sucedida.
De início os arqueólogos demarcam um sítio usando um “sistema de grade”, cotejando  a latitude e a longitude da área. Em geral dividem o sítio em “campos”. Dentro de cada campo medem certas “áreas” e as marcam com estacas para escavação. Os campos podem variar de tamanho, dependendo da situação, mas costumeiramente as áreas medem seis metros quadrados. Os arqueólogos subdividem ainda cada área em quatro quadrados, deixando divisores (“faixa de terra”) de um metro de largura entre cada quadrante. Essas faixas proporcionam um passadiço  para observação e inspeção durante o trabalho, e representam pontos de referência se mais tarde surgem dúvidas. Nem sempre um quadrante inteiro é cavado de maneira uniforme; os trabalhadores cavam “valas de sondagem” em ângulos retos a outras valas, num esforço por antecipar o que podem descobrir. Cada área tem seu supervisor, que por sua vez é supervisionado pelo diretor da escavação. O supervisor de área tem duas tarefas:
1. Supervisionar e dirigir a escavação real em sua área; 2. Registrar tudo com todo o cuidado à medida que aparece.
Os trabalhadores são basicamente de três tipos:
1. Os picareteiros, que com todo o cuidado quebram em pedaços o solo compacto (um procedimento muito especializado, que se distingue da corriqueira escavação de valas);
2. Os enxadeiros, que trabalham no solo recentemente solto, observando qualquer coisa significativa;
3. Os cesteiros, que retiram o refugo após a inspeção. Às vezes os cesteiros também usam peneiras, desempoladeiras  e escovas para raspagem e limpeza.
O supervisor de área registra notas cuidadosas em uma caderneta de campo, um diário de tudo o que seus trabalhadores fazem. Ele designa um número arbitrário de localização para cada subdivisão de sua área, tanto vertical como horizontalmente. Os operários coletam toda a cerâmica em cestas especiais e as etiquetam, para indicar a data, a área e o local. Depois a cerâmica é lavada e “lida” pelos peritos, que separam e registram as peças de interesse especial. Fotografam ou fazem um croqui  de qualquer coisa de interesse especial antes nova fase da escavação), o supervisor de área deve fazer desenhos 1 de desmontá-la. No final de cada dia (ou antes de dar início a uma 
em escala tanto das paredes verticais como do chão de sua área. No final da temporada, ele prepara um relatório detalhado de tudo o que aconteceu em sua área. O diretor geral da escavação reúne todos esses relatórios em seu próprio relatório preliminar, e depois faz uma publicação pormenorizada. Contudo, muitos diretores de projeto têm deixado de dar os passos finais, privando o mundo estudioso do fruto de seus labores.

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